quarta-feira, 24 de março de 2010
Gastronomia chilena
Sebastián é um fisioterapeuta que a Juliana tinha conhecido em Barcelona. Ele nos levou, junto com a Andréia sua esposa, por todas as partes de Santiago. Sem medirem esforços, fizeram com que submergíssemos na deliciosa gastronomia chilena. Quem passar por Santiago não deixe de comer “plateada”, uma carne saborosíssima; de provar o vinho “Carmener”; e o sorvete de chocolate com manjericão do Empório das Rosas.
De Neruda a Dubai
Sebastián e Andréia nos levaram também a “Isla Negra”, onde está uma das casas de Neruda. Confesso que meu interesse passava também pelo fato do projeto ter sido realizado conjuntamente com o arquiteto catalão exilado no Chile, German Rodriguez Arias. Entretanto o projeto tem menor importância quando comparado à paisagem da Isla Negra emoldurada pelas janelas da casa e aos infindáveis objetos que Neruda colecionou em seu interior, idealizando um universo próprio carregado de sensibilidade, simbolismo, e como não podia ser diferente, de enorme carga poética. Apenas para citarmos um exemplo, a coleção de barcos dentro de garrafas era colocada numa janela frente ao mar, para que, desde dentro da casa, parecessem que os barcos seguiam ainda navegando.
A trinta quilômetros mais ou menos daí, ainda na costa, fomos surpreendidos pelo condomínio de edifícios “San Alfonso del Mar”, que detêm orgulhosamente o titulo de possuir a maior piscina do mundo, justamente aí na frente do mar onde os barcos de Neruda seguem navegando. A surpresa não foi ocasionada pelas dimensões da piscina e sim pelo paradoxo estabelecido entre a sensibilidade entrevista nos objetos da casa de Neruda e a total falta de critério daquela gigantesca e contraditória obra do ser humano.
A trinta quilômetros mais ou menos daí, ainda na costa, fomos surpreendidos pelo condomínio de edifícios “San Alfonso del Mar”, que detêm orgulhosamente o titulo de possuir a maior piscina do mundo, justamente aí na frente do mar onde os barcos de Neruda seguem navegando. A surpresa não foi ocasionada pelas dimensões da piscina e sim pelo paradoxo estabelecido entre a sensibilidade entrevista nos objetos da casa de Neruda e a total falta de critério daquela gigantesca e contraditória obra do ser humano.
Santiago do Chile
Fomos recebidos em Santiago – da mesma forma que em Córdoba – com um carinho inexplicável. Nós nos hospedamos na casa da Margarita e do Pedro, um lindo casal de chilenos, pais de um amigo de Barcelona, o Santinho (Santiago). Pedro trabalha com vinicultura e Margarita com design e produção de jóias, moraram na Califórnia, Bolívia, Brasil e Barcelona e além de ótima conversa possuem uma energia e um astral difíceis de explicar. Da mesma forma que em Córdoba, deixamos a cidade de Santiago com um nó preso na garganta e a sensação de termos feitos novos amigos.
Nossos anfitriões chilenos vivem numa casa no bairro de “Las Condes”, bem no começo da pré-cordilheira andina que abraça, em um dos seus lados, a Santiago. A casa e todo o condomínio – aí chamado de comunidade – foram projetados por Fernando Castillo Velasco, um importante arquiteto e político chileno que foi reitor da Universidade Católica do Chile e prefeito de um dos setores da cidade de Santiago. Esse fato atribuiu, ao menos para mim, ainda maior interesse na estadia.
Essas comunidades têm como modelo as cidades jardins inglesas do começo do final do século XIX e começo do século XX, assim como seu desenvolvimento posterior, os bairros jardins residenciais, em teoria, marcados por uma forma de vida suburbana sem muros e em meio à natureza. No entanto, no caso destas comunidades chilenas seu caráter anti-urbano – apesar de todas as casas serem iguais – é ainda mais radical e essas comunidades propõe uma inseparável relação com a natureza.
Nossos anfitriões chilenos vivem numa casa no bairro de “Las Condes”, bem no começo da pré-cordilheira andina que abraça, em um dos seus lados, a Santiago. A casa e todo o condomínio – aí chamado de comunidade – foram projetados por Fernando Castillo Velasco, um importante arquiteto e político chileno que foi reitor da Universidade Católica do Chile e prefeito de um dos setores da cidade de Santiago. Esse fato atribuiu, ao menos para mim, ainda maior interesse na estadia.
Essas comunidades têm como modelo as cidades jardins inglesas do começo do final do século XIX e começo do século XX, assim como seu desenvolvimento posterior, os bairros jardins residenciais, em teoria, marcados por uma forma de vida suburbana sem muros e em meio à natureza. No entanto, no caso destas comunidades chilenas seu caráter anti-urbano – apesar de todas as casas serem iguais – é ainda mais radical e essas comunidades propõe uma inseparável relação com a natureza.
terça-feira, 23 de março de 2010
La Ruta del Libertador
“La Ruta 7” na Argentina e “La Ruta del Libertador” no Chile cruzam toda a América do Sul no sentido leste-oeste e cortam ao meio a Cordilheira dos Andes. Pelo abandono e conseqüente desaparição do sistema ferroviário é atualmente o eixo de transporte mais importante do “Mercosur”, conectando o porto de Buenos Aires ao Porto de Valparaíso no Chile.
A estrada, por si só, tem um enorme atrativo devido ao fato de conectar dois oceanos, porém é na região da cordilheira e pré-cordilheira onde parecem concentrarem-se todos os seus focos de atenção: resquícios de civilização Inca; o lugar onde o exército espanhol foi encurralado por San Martin, “El libertador”; vinícolas; cemitérios de alpinistas (ou andinistas); a maior refinaria de petróleo da Argentina; rios onde se praticam “rafiting”, cercados por uma vegetação semidesértica; represas, balneários e SPAs; e a confusa fronteira entre os dois países. Tudo isso junto e tendo como pano de fundo a onipresente paisagem da Cordilheira do Andes.
A estrada, por si só, tem um enorme atrativo devido ao fato de conectar dois oceanos, porém é na região da cordilheira e pré-cordilheira onde parecem concentrarem-se todos os seus focos de atenção: resquícios de civilização Inca; o lugar onde o exército espanhol foi encurralado por San Martin, “El libertador”; vinícolas; cemitérios de alpinistas (ou andinistas); a maior refinaria de petróleo da Argentina; rios onde se praticam “rafiting”, cercados por uma vegetação semidesértica; represas, balneários e SPAs; e a confusa fronteira entre os dois países. Tudo isso junto e tendo como pano de fundo a onipresente paisagem da Cordilheira do Andes.
Degustação perigosa
Mendoza, quase na fronteira com o Chile, oferece uma forma diferente, e aparentemente interessante, de degustar seus vinhos: se locomovendo em bicicleta entre vinhedos e vinícolas.
Ao começarmos o passeio a opção em bicicleta nos pareceu ser a mais acertada, entretanto 500 ou 600 metros depois ficou evidente o perigo que passávamos: uma estreita estrada sem lugar destinado ao ciclistas e lotada de caminhões carregados com uvas. A situação foi se agravando – a cada vinícola e vinho degustado – na medida em que o teor alcoólico ia subindo e o grupo de ciclistas ia aumentando. Certamente o melhor do passeio foi constatar que ao entregarmos as bicicletas, dezenas de turistas ciclistas “degustavam” à vontade o vinho (sem rótulo) oferecido, gratuitamente, pelo proprietário das bicicletas.
Ao começarmos o passeio a opção em bicicleta nos pareceu ser a mais acertada, entretanto 500 ou 600 metros depois ficou evidente o perigo que passávamos: uma estreita estrada sem lugar destinado ao ciclistas e lotada de caminhões carregados com uvas. A situação foi se agravando – a cada vinícola e vinho degustado – na medida em que o teor alcoólico ia subindo e o grupo de ciclistas ia aumentando. Certamente o melhor do passeio foi constatar que ao entregarmos as bicicletas, dezenas de turistas ciclistas “degustavam” à vontade o vinho (sem rótulo) oferecido, gratuitamente, pelo proprietário das bicicletas.
Sempre rumo a oeste
Uma das diferenças desta viagem com relação à maioria das que fizemos é mantermos sempre a direção oeste, o que implica, ao menos para nós, em uma enorme carga simbólica condensada em três aspectos:
1. Dar a volta ao globo. Neste caso em particular, de Londres a Londres, ou dependendo do ponto de vista, de São Paulo a São Paulo.
2. Não voltarmos nunca atrás.
3. Perseguir o pôr do Sol.
Enquanto escrevemos essas observações cruzamos os Andes, sempre rumo a oeste.
1. Dar a volta ao globo. Neste caso em particular, de Londres a Londres, ou dependendo do ponto de vista, de São Paulo a São Paulo.
2. Não voltarmos nunca atrás.
3. Perseguir o pôr do Sol.
Enquanto escrevemos essas observações cruzamos os Andes, sempre rumo a oeste.
quarta-feira, 10 de março de 2010
Tijolos e lembranças
Córdoba, a oeste e um pouco ao norte de Buenos Aires, foi o segundo destino da nossa viagem. Bastaram um pouco mais de 30 minutos na cidade para percebermos o quanto sería especial a estadia. Fomos recebidos com muito carinho pela família de uma querida amiga de Barcelona (Magda), a ponto de sua mãe deixar seu quarto para nós, sem a possibilidade de negarmos.
Entre os muitos lugares que tivemos a oportunidade de conhecer com eles, foi realmente especial o percurso pela região conhecida como “Sierras Chicas”; à parte da impressionante paisagem, conhecemos uma pequena colônia de italianos esquecida no tempo, Colônia Caruya. Lili, a mãe de Magda, tinha nascido alí, no seno de uma família de imigrantes. Ao longo do passeio fomos ouvindo pequenas historias: “Nós morávamos aqui, esta era a casa da fulana de tal, este era o terreno onde meu pai plantava uva e nos verões colhíamos entre primos e primas”. E o que particularmente nos impactou: “essa era a fabrica de tijolos da família”. Uma linda e singela estrutura em tijolo a vista composta de fornos e chaminés, atualmente coberta de plantas.
Por algum motivo não fotografamos o passeio, apenas o guardamos com carinho na memória, não exatamente por seu interesse turístico, mas pela enorme carga emotiva que o envolveu. Um beijo para você Lili. (Córdoba, 03/03/2010)
Entre os muitos lugares que tivemos a oportunidade de conhecer com eles, foi realmente especial o percurso pela região conhecida como “Sierras Chicas”; à parte da impressionante paisagem, conhecemos uma pequena colônia de italianos esquecida no tempo, Colônia Caruya. Lili, a mãe de Magda, tinha nascido alí, no seno de uma família de imigrantes. Ao longo do passeio fomos ouvindo pequenas historias: “Nós morávamos aqui, esta era a casa da fulana de tal, este era o terreno onde meu pai plantava uva e nos verões colhíamos entre primos e primas”. E o que particularmente nos impactou: “essa era a fabrica de tijolos da família”. Uma linda e singela estrutura em tijolo a vista composta de fornos e chaminés, atualmente coberta de plantas.
Por algum motivo não fotografamos o passeio, apenas o guardamos com carinho na memória, não exatamente por seu interesse turístico, mas pela enorme carga emotiva que o envolveu. Um beijo para você Lili. (Córdoba, 03/03/2010)
Tango, churrasco e alfajor
Se parece ao nosso tópico: samba, futebol e mulatas. Porém, no caso argentino, mais do que no caso brasileiro, os três aspectos estão profundamente arraigados à cultura nacional, ou ao menos a “porteña” e a “cordobense”.
Fomos convidados pela Ana Laura, irmã de Magda, para conhecermos um lugar onde os argentinos dançam tango e milonga. O ambiente visto desde uma fotografia ( como o de abaixo) e sem nos fixarmos nos detalhes (como as sandálias de salto alto) poderia ser facilmente confundido com qualquer forró paulistano ou sambão carioca. Para nossa maior surpresa, as milongas, um tipo de tango do interior do país, possuem grande semelhança com o nosso forró.
Em nosso último dia em Córdoba fomos presenteados pela família anfitriã com um churrasco à moda argentina, regado com um excelente vinho de Mendoza e como sobremesa as panquecas caseiras de doce de leite. Todo o evento seguido de uma enorme “siesta”, afinal era nosso segundo domingo.
De noite deixamos casa com destino a Mendoza, rumo sempre a oeste, com um nó na garganta por deixarmos nossos anfitriões e novos amigos. (Córdoba, 07/03/2010)
Fomos convidados pela Ana Laura, irmã de Magda, para conhecermos um lugar onde os argentinos dançam tango e milonga. O ambiente visto desde uma fotografia ( como o de abaixo) e sem nos fixarmos nos detalhes (como as sandálias de salto alto) poderia ser facilmente confundido com qualquer forró paulistano ou sambão carioca. Para nossa maior surpresa, as milongas, um tipo de tango do interior do país, possuem grande semelhança com o nosso forró.
Em nosso último dia em Córdoba fomos presenteados pela família anfitriã com um churrasco à moda argentina, regado com um excelente vinho de Mendoza e como sobremesa as panquecas caseiras de doce de leite. Todo o evento seguido de uma enorme “siesta”, afinal era nosso segundo domingo.
De noite deixamos casa com destino a Mendoza, rumo sempre a oeste, com um nó na garganta por deixarmos nossos anfitriões e novos amigos. (Córdoba, 07/03/2010)
Ignácio de Loyola e Ignácio Diaz
A presença da Companhia de Jesus em Córdoba e em seus arredores parece ter sido fundamental; dentro da cidade, permanece ainda o conjunto formado pela Universidade, o Colégio e a Igreja, entretanto é nos seus arredores onde encontramos algumas estâncias jesuíticas de enorme valor. Essas estâncias foram complexos agrícolas usando mão de obra indígena que acabaram servindo como baluarte frente às tentativas dos bandeirantes paulistas de invasão do território. Entre elas destaca-se a de Alta Grácia, com uma raríssima Igreja barroca sem torres, na mesma cidade onde Ernesto Guevara (Che) passou sua infância e foi presenteado com um museu.
Além dos edifícios jesuíticos, Córdoba é conhecida no meio arquitetônico pelo pós-moderno Miguel Angel Roca, entretanto, paradoxalmente existe uma interessantíssima produção moderna espalhada pela cidade. Entre os dois períodos, os anos 1950 e os anos 1990, parece ser fundamental o trabalho e a influência da obra de Juan Ignácio Diaz “El Togo”, caracterizada pelo uso do tijolo à vista que se disseminou por toda a cidade, marcando profundamente sua paisagem.(Córdoba, 05/03/2010)
Além dos edifícios jesuíticos, Córdoba é conhecida no meio arquitetônico pelo pós-moderno Miguel Angel Roca, entretanto, paradoxalmente existe uma interessantíssima produção moderna espalhada pela cidade. Entre os dois períodos, os anos 1950 e os anos 1990, parece ser fundamental o trabalho e a influência da obra de Juan Ignácio Diaz “El Togo”, caracterizada pelo uso do tijolo à vista que se disseminou por toda a cidade, marcando profundamente sua paisagem.(Córdoba, 05/03/2010)
quarta-feira, 3 de março de 2010
Pé (direito) na estrada
Pareciam sinais de que ia começar mal. Primeiro foi o “teco-teco” que usamos para atravessar o rio La Plata, indo de Montevideo para Buenos Aires; a “coisa” sacudia tanto que até alguns dos, aparentemente, mais machões se revelaram na hora da aterrissagem. Em seguida foi o ônibus de linha que tomamos do aeroporto até o hostel carregado de “porteños” em plena hora do rush em dia de jogo do Boca Juniors. Finalmente, depois de sobreviver aos dois trajetos, chegamos ao hostel, que por precaução tínhamos reservado; na verdade, um pardieiro daqueles que é difícil ter coragem de respirar dentro do quarto, quanto mais dormir. Foram necessários apenas dois minutos para que criássemos uma cabeluda historia sobre um amigo de La Plata que nos vinha buscar...
Vinte minutos depois do ocorrido já estávamos num delicioso hostel a apenas duas quadras do anterior, numa elegante casa do começo do século passado como pátio central iluminado por uma clarabóia de vidro e pé-direito de mais de quatro metros; mais vinte minutos e já estávamos no genial restaurante de esquina, comendo carne e tomando vinho. Dormimos cansados e acordamos com uma linda manhã de sol, segundo o porteiro, a primeira depois de quatro semanas. Tínhamos começado com o pé-direito. (Buenos Aires, 02 de 2010)
Vinte minutos depois do ocorrido já estávamos num delicioso hostel a apenas duas quadras do anterior, numa elegante casa do começo do século passado como pátio central iluminado por uma clarabóia de vidro e pé-direito de mais de quatro metros; mais vinte minutos e já estávamos no genial restaurante de esquina, comendo carne e tomando vinho. Dormimos cansados e acordamos com uma linda manhã de sol, segundo o porteiro, a primeira depois de quatro semanas. Tínhamos começado com o pé-direito. (Buenos Aires, 02 de 2010)
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