sexta-feira, 11 de junho de 2010

Camboja + Bali + Bangkok





Vaca?

A comida cambojana é tão boa quanto à dos seus vizinhos famosos e seriam muito parecidas se não fossem os novos ingredientes que fomos pouco a pouco descobrindo: Grilo Chips, Spiderlitos, Bisoritos e “otras cositas más”. Entretanto o mais intrigante foi o animal no rolete que encontramos no meio da cidade. Ao perguntarmos o que era ao “churrasqueiro”, este nos deu um enorme sorriso e soltou num típico inglês cambojano a frase. “No dog, no dog, it is Caw!!! Same same, but diferent!”







Entramos no Camboja por uma de suas fronteiras com o Vietnam. Poucos quilômetros foram suficientes para percebermos algumas diferenças entre os dois países: a fisionomia das pessoas se distância do povo chinês e se aproxima do tailandês; a densidade demográfica cai abruptamente; a umidade relativa do ar supera em muito, junto com a temperatura, os limites do aceitável; e as zonas urbanizadas são, na medida em que nos afastamos do Vietnam, cada vez mais escassas.
Esse conjunto de impressões faz com que o país seja muito mais “suave” que seus vizinhos “tigres” asiáticos. Essa ideia se confirmou ao chegarmos à capital Phom Pem. Tivemos a impressão de que todo o desenvolvimento econômico dos países vizinhos (Tailândia e Vietnam) nos últimos 20 anos chegou recentemente ao Camboja e vem se dando de forma lenta e possivelmente burocrática. De qualquer modo, Phom Pem é uma “pequena” metrópole tão alegre e vibrante – com centenas de pessoas todo final de tarde dançando no calçadão nas margens do rio que corta a cidade –, que fica difícil imaginá-la com os enormes arranha-céus e viadutos que acompanharam o desenvolvimento das principais metrópoles asiáticas nos últimos anos. Se não fossem os numerosos mutilados – deambulando ou trabalhando como vendedores nas ruas – seria difícil imaginar os massacres ocorridos na segunda metade da década de 1970 sob o governo ditatorial de esquerda conhecido como Khmer Vermelho onde morreram aproximadamente 2 milhões de pessoas, uma cifra assustadora quando comparada às cifras das ditaduras de direita contemporâneas na America do Sul.



Império Khmer

Muitos turistas que viajam ao Camboja têm como principal interesse conhecer os templos Khmer de Angkor. De fato vale a experiência e possivelmente seja, como dizem os guias, o maior complexo religioso do mundo, ao menos em superfície construída.

O Império Khmer foi o maior e mais importante do sudeste Asiático, abrangendo territórios que atualmente correspondem à Tailândia, Vietnam, Camboja e Laos, entre os séculos IX e XIII. As ruínas (algumas restauradas) em território cambojano, declaradas patrimônio universal pela UNESCO, correspondem ao que foi o centro neurálgico do antigo império, e sem a menor dúvida justificam a visita ao Camboja, ainda que seja em bicicleta e sob um calor indescritível.
Entre todo o conjunto se destaca o gigantesco templo budista de Angkor Wat. Se a comparação com outros templos religiosos coetâneos, como as igrejas góticas francesas, for inevitável, a conclusão será que os Khmerios estavam muitos anos atrasados do ponto de vista de técnicas construtivas (o que é verdade), entretanto esses templos devem ser olhados desde outras perspectivas, onde a intensa simetria e a metáfora do próprio Universo, representado a partir da ideia de montanha e de oceano, fazem parte de uma complexa teia simbólica que seduzem a qualquer visitante.





Bangkok em Guerra

Entre o Camboja e a Indonésia estivemos alguns dias descansando na familiar Bangkok. Encontramos alguns amigos que tínhamos deixado por lá e aproveitando o toque de recolher noturno imposto pela policia local, devido aos conflitos com os “camisas vermelhas” decidimos fazer uma tatuagem para passar o tempo. Afinal, por que não?



Bali

Bali foi a opção ideal para descansar depois do périplo continental que empreitamos. No lugar de turistear, optamos em ficar o maior tempo possível nas deliciosas praias do sul da Ilha, reduto de surfistas e de gente bonita. Alugamos uma “lambreta” com suporte para uma prancha de surf (que obviamente não tínhamos), e armados com nossas novas tatuagens fingimos – aproveitando que não tinham ondas –, sermos surfistas da velha guarda. Ficamos surpresos, depois de tantos países visitados, encontramos finalmente um em que tivessem turistas brasileiros, em meio a boa cerveja, conversa relaxada salpicada de historias de lendas de balineses de 20 cm escondidos na selva.






segunda-feira, 24 de maio de 2010

Vietnam






De Hanói a Saigon

A decisão de descer de Hanói em direção a Saigon, seguindo o conselho de uma amiga chilena que morou por essas bandas, foi uma excelente ideia. Primeiro porque o clima vai melhorando sensivelmente, mas, sobretudo porque o carisma das pessoas também, fazendo com que qualquer viajante passe de certo receio com relação à idiossincrasia da população do norte –marcada por uma austeridade provavelmente forjada pelos muitos anos de guerra e pela disciplina comunista – à uma enorme admiração generalizada pelo país. O percurso é marcado, a cada quilometro, por um curioso processo de sedução através da gastronomia, da paisagem e das pessoas. Estas últimas, na medida em que nos aproximamos é possível entender que a austeridade evidenciada no primeiro momento é na verdade certa desconfiança – justificada – com relação ao ocidente.

O Vietnam possui basicamente uma única estrada que conecta o norte e o sul e suas duas principais cidades, Hanói e a antiga Saigon, agora Ho Chi Min em homenagem ao líder e herói nacional comunista. No meio do caminho entre elas encontramos a agradável cidade histórica de Hoi An, um pequeno vilarejo próximo ao mar. Hoi An está formada basicamente por uma dúzia de pequenas ruas onde, em cada uma de suas casas, se sobrepõem usos comerciais, residências e hoteleiros. Seus estreitíssimos terrenos condicionam essas casas a uma curiosa tipologia marcada por volumes geminados por empenas mais altas e com telhados a duas águas. Essas casas, de um ou dois andares, são formadas por mais de um volume separados por pátios que resolvem a falta de iluminação natural e servem como espaço de oração, descanso e vida coletiva. Todo o conjunto foi declarado patrimônio mundial pela UNESCO.




Mais ao Sul – e apesar dos inúmeros resorts espalhados por toda a costa Vietnamita como uma nova forma de invasão franco-americana – ainda resiste a praia de Mui Ne, uma longa extensão de areia branca ao lado da pequena vila de pescadores homônima. Nessa altura do percurso, hospedados com o pé na areia de frente para o mar e contagiados por uma profunda e saborosa preguiça, já nos sentíamos completamente seduzidos pelo país e em especial pela elaborada culinária. Até este momento não tínhamos conseguido nos decidir entre qual era a melhor, se a comida Tailandesa ou a Vietnamita, entretanto, foram decisivos para o veredito a favor da última, a comida de rua de Hoi An e a lagosta e o camarão na brasa por preços irrisórios em Mui Ne.



Ao chegarmos à vibrante Saigon – marcada por uma difusa e divertida mescla entre Lênin, Confúcio e Belle Epoque – ficou definitivamente evidente a diferença de caráter entre o Norte e o Sul. A energia positiva acumulada progressivamente ao longo do percurso Norte / Sul só foi quebrada com a visita ao museu dedicado à Guerra contra os Estados Unidos. Apesar de o museu ser administrado pelo Partido Comunista e, portanto completamente parcial, expõe de forma muito dura as atrocidades de uma guerra carente de sentidos.